Projeto cultural destaca presença indígena em Gramado por meio da arte urbana
GRAMADO | A cidade de Gramado acaba de ganhar um importante legado cultural: o projeto “Muralismo e os povos originários: do esquecimento à inclusão” irá presentear a Vila Joaquina – Território Criativo com três murais permanentes que valorizam a memória e a cultura dos povos indígenas da região. As obras, idealizadas e executadas pelo artista plástico Alessandro Müller, têm como propósito dar visibilidade à contribuição dos povos originários na formação histórica e cultural da cidade.
Em parceria com a aldeia Kaingang Kógūnh Mág, de Canela, o projeto une arte urbana, inclusão e educação. Antes de iniciar a pintura dos murais, Alessandro esteve na aldeia para uma vivência com o cacique Mauricio Salvador, com o objetivo de aprofundar seus conhecimentos sobre o grafismo indígena – saberes que foram essenciais para a criação das obras e estão refletidos em cada traço das composições. “Como produtor cultural e artista, vejo nosso papel na importância de contribuir artisticamente neste processo de salvaguarda e resgate da história da nossa cidade. A arte é um caminho fantástico para isso”, afirma Müller.
Além das pinturas murais, o projeto promoveu oficinas de muralismo em escolas descentralizadas, contação de histórias para a educação infantil com o cacique Mauricio, e formações para professores em educação patrimonial, ampliando o impacto social da iniciativa.
O primeiro mural já foi iniciado, marcando o começo de uma trilogia visual que ocupará a parede lateral do Arquivo Público Municipal, dentro da Vila Joaquina. As três obras foram pensadas para dialogarem entre si, compondo um conjunto artístico coeso que conecta simbolismos da natureza, fauna e flora com a cosmovisão indígena. A previsão de entrega dos murais é dezembro de 2025, momento em que Gramado receberá oficialmente este presente cultural a céu aberto.
As obras instaladas na Vila Joaquina contarão com audiodescrição imagética ível via QR Code, garantindo inclusão e o prolongado aos conteúdos culturais por toda a comunidade. A escolha do local – a Vila Joaquina – reforça o compromisso do projeto com a valorização dos espaços públicos como locais de expressão artística e memória coletiva.
Segundo a produtora cultural Luana Michel, o projeto representa uma reparação simbólica e necessária. “Este é o legado que deixaremos para a cidade: arte e memória indígena, trazendo à tona sua contribuição, vinda do esquecimento e sendo inclusa na nossa história, através desta homenagem feita pela arte urbana do muralismo”.
Além disso, o projeto cultural se tornou tema da monografia da pós-graduada do artista Alessandro, que irá apresentá-la durante o mês de junho para obtenção do título de especialista em Artes pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). A pesquisa analisou as atividades formativas realizadas em escolas da cidade e aprofundou o entendimento e a reflexão sobre a importância de abordar a diversidade étnico-cultural em sala de aula, contribuindo para a valorização e preservação da cultura indígena.
O projeto foi contemplado no edital SEDAC/LPG nº 11/2023 – Pesquisa, Registro e Memória, ficando em 7º lugar entre mais de duzentas propostas culturais do Rio Grande do Sul, e realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022 (Lei Paulo Gustavo). Sua concepção contou, ainda em 2023, com o apoio da Secretaria de Cultura de Gramado, por meio do então secretário Ricardo Bertoluci Reginato, que acolheu prontamente a iniciativa.
Em março deste ano, o projeto gráfico foi apresentado a representantes do Ministério da Cultura, durante visita oficial à cidade. “Há uma expectativa muito bonita do governo federal em torno destes murais, do seu simbolismo e do que eles representam”, conclui Alessandro Müller.
Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022
Realização: Ateliê das Utopias
Parcerias: Secretaria Municipal de Cultura de Gramado, Secretaria de Turismo de Gramado e Retomada Kaingang
Produção: LM Produções Artísticas